domingo, 3 de maio de 2009

A SABEDORIA DIVINA

Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento”.
Pv. 2.6

Para muitos homens da antiguidade a sabedoria era o dom máximo a ser alcançado. Era o limiar da transformação do intelecto e o princípio que abarcava toda a verdade. Por este motivo a sabedoria era buscada incansavelmente pelos filósofos [1], pois estes queriam alcançar a qualidade de sábio, ou seja, aquele que dominava a sabedoria de tal modo que podia refleti-la em seus atos. Um dos grandes mestres da sabedoria foi Sócrates (469-399 a.C.), influenciou todo o mundo com seus pensamentos. Ele foi um dos primeiros a desenvolver o sentido ético e religioso da sabedoria [2], mostrando como o homem deveria viver de forma à refletir a verdadeira sabedoria. Para Sócrates isso foi tão real que ele morreu ao tomar cicuta para não negar a verdade que ensinava [3]. Assim como Sócrates (469-399 a.C.) para Platão (427-347 aC.) a sabedoria perfeita pertence somente a Deus; os homens são apenas filósofos (Filo/sofoj), amantes da sabedoria [4]. Esse pensamento corrobora com o texto da Epístola de Tiago que diz: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1:17). Portanto a sabedoria sendo um dom perfeito só pode ser dada por Deus, que a todos dá sem nada pedir em troca (Tg 1.5) [5].

O propósito do livro de provérbios é claramente expresso no começo do livro onde está escrito: “Para aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a eqüidade; para dar aos simples prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso. Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído adquira habilidade para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábios”. (Pv 1:2-6). Deste livro pode-se tirar muitos ensinamentos, mas dentre todos eles o mais importante é: “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv. 1.7) [6], esse é o primeiro e maior de todos os deveres e o prisma pelo qual deve-se ler, não só o livro de Provérbios, mas toda a Escritura Sagrada, pois Deus quer nos revelar a Sua Sabedoria através da Escritura, mesma Sabedoria que criou os céus e a terra, para que possamos usá-la em nossas vidas (Tg 1.5).

O livro de Provérbios foi escrito pelo Rei Salomão como indica o versículo 1 que abre o livro. Salomão foi filho do Rei Davi, ele foi um grande rei, famoso por seu saber e sua riqueza. Compôs mais de 3000 provérbios e 1005 cânticos [7]. Salomão estava qualificado de modo especial para escrever este livro. Deus lhe havia dado “sabedoria, grandíssimo entendimento e larga inteligência como areia que está na praia do mar” (Cf. 1 Reis 4.29). Ele era filósofo e cientista de grande capacidade. Foi o arquiteto do Templo que se tornou uma das grandes maravilhas da arquitetura do mundo antigo e também um grande legislador.

O Livro de Provérbios está repleto de sabedoria. Ensinamentos de todas as ordens, desenvolvidos com uma perspicácia sem igual. Muitos homens tentaram escrever provérbios como estes, mas as suas tentativas foram em vão, pois uma sabedoria como esta somente em Deus pode-se encontrar. Ele é ,na verdade, o autor da sabedoria expressa nas páginas de Provérbios [8].

Provérbios apresenta um sistema de conduta e vida. Fornece normas para uma vida reta, conforme a vontade de Deus. A beleza maior deste livro esconde-se no sentido real da palavra “sabedoria”, este termo significa mais que uma qualidade excelente, ele representa o próprio Cristo. Portanto a sabedoria de Provérbios é o próprio Verbo Encarnado do Novo Testamento.

Esta sabedoria é representada como habitando com Deus desde a eternidade. Como está escrito em Provérbios 8.23-30: “Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra...então, eu estava com ele e era seu arquiteto”. Se compararmos este texto com o de Colossenses 2.2b-3 que diz: “o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” confirmamos esta verdade. Então ao lermos Provérbios se colocarmos Cristo no lugar de sabedoria estaremos utilizando sinônimos idôneos da mesma Palavra, pois se a sabedoria procede de Deus [9], e, é o próprio Deus, então Jesus Cristo sendo Deus e homem é a própria sabedoria encarnada.

Portanto a Sabedoria é, sem sombra de duvidas, proveniente de Deus, o verso escrito acima diz: “O Senhor dá [10] a sabedoria”. Isso significa que a sabedoria vem de Deus. Ele deposita sobre os seus filhos a sua sabedoria de forma que revela tudo o que é necessário para a salvação e para o viver daquele que o teme (vs 5). Ao revelar-se aos homens em sua Palavra Deus demonstra a mais profunda sabedoria, aquela que é capaz de salvar a alma e corpo do inferno, além de transformar completamente a vida daquele que a possui [11]. Essa era a verdade buscada por Sócrates, Platão e muitos outros. No entanto, encontrada somente nas páginas da Bíblia, pois essa sabedoria proveniente de Deus não é algo que se possa buscar ou mesmo encontrar fora dEle, se faz necessário que O Deus Fiel da Aliança permita que tenham essa sabedoria, é algo outorgado que não pode ser simplesmente encontrada, precisa de revelação. O que significa que essa sabedoria não é alcançada por mero esforço humano, mas sim dada por Deus a todo aquele que aceita a Jesus como Senhor. É importante frisar que essa sabedoria deve ser desejada como demonstra os versículos de 1-6 do capítulo 1º de Provérbios.

Deve-se também aceitá-la, estar atento à Ela (a voz de Deus) inclinando o coração e clamando por entendimento, pois a Bíblia deve ser lida conjuntamente com a oração, ou seja, o clamor pela iluminação. Diante disso devemos buscá-la mais do que as riquezas (prata e ouro) porque fazendo isso encontramos o temor do Senhor e achamos conhecimento de Deus.

Eis a verdadeira Sabedoria: O Conhecimento de Deus. Um belo exemplo dessa verdade são os quatro jovens judeus na Babilônia, Daniel, Hananias, Misael e Azarias (Dn 1.6). Estes receberam sabedoria de Deus, diz o texto: “Ora, a estes quatro jovens Deus deu [12] conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria” (Dn 1.17). Deus deu-lhes aprendizado não só para suas vidas diárias, mas para tudo o que fossem fazer. Isso é comprovado em todo o livro de Daniel. Daniel foi o braço direito e conselheiro de três reis da dinastia Persa, para isso foi habilitado em toda a Sabedoria por Deus.

O texto diz também “da sua boca vem”, ou seja, da boca de Deus. Esta é a prova de que Deus está em relacionamento com o seu povo, por causa de sua Aliança estabelecida com eles. Isso revela que Deus não se comunica impessoalmente, mas como Pai a filhos. Da “boca de Deus” significa da Sua Palavra, da Bíblia, dela vem a sua voz, este é o motivo pelo qual devemos estar atentos a Sagrada Palavra.

Para entendermos melhor pensem um pouco comigo no povo em meio ao êxodo. Eles ao atravessarem o deserto foram provados por Deus passando fome para que compreendessem que nem só de pão viverá o homem, mas sim de toda a Palavra que procede da boca de Deus. Concernente a isto disse Moisés: “[no deserto] Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem”. (Dt 8.3) [13]. Aqui encontramos o motivo pelo qual devemos viver, ou seja, devemos viver de toda a Palavra que procede de Deus. É muito comum ver ao longo de toda a Escritura a expressão “veio a mim a Palavra do Senhor”, principalmente no livro do profeta Ezequiel. Esse era o motivo pelo qual o profeta existia, para falar da parte do Senhor a sua Palavra, esse era o meio, era isso que alimentava e transformava o povo. O mesmo aconteceu por meio de Jesus, ele revelou a Palavra de Deus, Ele se revelou a Palavra viva. Tiago conhecia muito bem isso, ele diz em sua epístola que Deus nos gerou pela Palavra da verdade [14], pelo próprio Cristo, ele é a “boca de Deus” de onde procede toda a verdade e toda a sabedoria. Após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus começa o período dos escritores do Novo Testamento, Deus não se manifestaria mais pelos profetas, mas sim pela Sua Palavra Escrita, Antigo (que já estava pronto) e Novo Testamentos, através deles (da Palavra). Portanto a boca de Deus é a própria Escritura Sagrada. Hoje utilizada pelos pregadores para falar da vontade de Deus ao seu povo, para transmitir a Sabedoria de Deus ao povo, para dar “inteligência e entendimento”, ou seja, a teoria e a prática.

Amigos, a Palavra de é sempre comprovável nestes dois níveis. Moisés sabendo disso após receber de Deus os ensinamentos (teoria) de como o povo deveria viver disse a todo Israel: “Ouvi, ó Israel, os estatutos e juízos que hoje vos falo aos ouvidos, para que os aprendais e cuideis em os cumprirdes”. (Dt 5.1). Aqui estão presentes estas duas verdades, o povo deveria ouvir com inteligência (teoria) e deveriam cumprir mostrando entendimento (prática). Essa junção trás aos homens Sabedoria Divina para a vida.

Portanto a “Sabedoria” é o caráter do que é dito por Deus ou pensado sabiamente por aqueles que ouvem essa sabedoria. Deus fala com sabedoria e aqueles que acolhem esta verdade devem discernir por esse mesmo prisma. Essa é a iluminação concedida aos Filhos (Jo 1.12) para compreenderem o que Deus quer dizer.
A Sabedoria (inteligência e o entendimento) que vêm da boca de Deus é esta: A Sua Vontade Expressa Em Sua Palavra.


Deus te abençoe com a Sua Sabedoria.

BIBLIOGRAFIA:

[1] A palavra "Filosofia" (Filosofi/a) provém de dois termos gregos: (fi/loj), que significa, "amor", "amizade" e, (Sofi/a), "sabedoria". Deste modo, a palavra “Filosofia” pode ser traduzida por “amizade ao saber"; sendo neste caso o filosofo (Filo/sofoj) é aquele que é o "amante da sabedoria". Rev. Hermisten Mais P. da Costa, Apostila de Introdução a Filosofia, Seminário JMC, p. 9. Material não editado.

[2] Ver. Platão, Fédon, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. III), 62c-69e. p. 69-78.

[3] Cf. o texto Apologia de Sócrates, Diálogos de Platão, Hemus editora limitada, p. 43.

[4] “Chamá-los sábios (sofo/j), Fedro, me parece excessivo e só aplicável a um deus; mas o nome filósofo (filo/sofo) ou um epíteto semelhante lhes caberia melhor e seria mais apropriado”. (Platão, Fedro, Rio de Janeiro, Editora Tecnoprint (Diálogos I), (s.d.), 278d. p. 267).

[5] “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida”.

[6] Cf. Salmo 111.10. “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam”. Provérbios 9.10 “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência”.

[7] Cf. “Era mais sábio do que todos os homens, mais sábio do que Etã, ezraíta, e do que Hemã, Calcol e Darda, filhos de Maol; e correu a sua fama por todas as nações em redor. Compôs três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco”. (1 Reis 4.31-32).

[8] Cf. A Doutrina Reformada da inspiração das Escrituras.

[9] Cf. Tg 1.17 “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”. 1 Sm 2.3b;”... O SENHOR é o Deus da sabedoria....”; Dn 2.20-21 “Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder; ...ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes”.

[10] “Dar” pode indicar qualquer ação, desde a ação de entregar fisicamente um presente, uma recompensa, uma pessoa ou um documento, até idéias menos tangíveis de conceder ou outorgar benção, compaixão, permissão e coisas semelhantes. Dicionário Internacional de Teologia do AT, Ed. Vida Nova, P. 1018.

[11] Um viver sábio esta diretamente conectado com a Palavra e a vontade de Deus, mesmo quando a pessoa que demonstra essa sabedoria não é crente. Calvino chama esse fato de graça comum, ou seja, isso acontece quando um homem que não teme a Deus demonstra amor, ética e bons conselhos em sua vida, isso significa, diz Calvino, que há nesse indivíduo um resquício da pessoa de Deus (sua imagem e semelhança) que o impele a fazer o bem sem necessariamente que este seja uma nova criatura, em outras palavras, aquele que tem acesso ao conhecimento dado por Deus.

[12] Temos aqui o mesmo verbo (!t;’n") utilizado por Salomão.

[13] Cf. Mesmas palavras “boca do SENHOR” Dt 8:3 hw"ßhy>-ypi. DIT. P. 1203.

[14] boulhqei.j avpeku,hsen h`ma/j lo,gw avlhqei,aj eivj to. ei=nai h`ma/j avparch,n tina tw/n auvtou/ ktisma,twnÅ Literalmente: “Tendo decidido, gerou a nós por palavra de verdade para sermos nós primícias, um tipo de criaturas dele”.

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