“Não removas os marcosantigos que puseram teuspais”.
Pv. 22.28
Salveamigos,
Estou de volta a minhacidade e cheio de desejo de escrever. Os dias no Mackenzie foram muito inspirativos, revi velhosamigos, recebi ensino de velhosmestres etc.. Dentreestes o Rev. Hermisten Maia P. da Costa que nos deu aula da disciplinaEstudo Comparado das Confissões. Só estudando uma matériaimportantecomo essa é que podemos ter a idéiareal do que está acontecendo na igrejamoderna, sobretudo no Brasil. Um dos alunos, de denominaçãobatista, disse: “Hoje vejo o tamanho do problema que as igrejasbatistas estão enfrentando, pois há uma miscelânea de doutrinas nas igrejas e um dos motivos foi justamente o abandono dos Símbolos de Fé”. Uma tristeconstatação que infelizmentenão ocorreu somentecom os batistas, mascom todas as igrejas brasileiras que resolveram darmaisênfase ao poder do “espírito” do que nosmarcos da igreja.
Pensei sobre isso enquanto escrevia o post anterior (Abadia de Westminster), daí me fiz a seguinte pergunta: Se muitosnão conhecem a história da igreja, nem sabem o significado dos credos e confissões, como saberão doutrina? Infelizmente essa é uma das marcas da igreja cristã moderna.
Charles Colson emseunovolivro comenta:
“A maioria dos cristãos declarados não sabe em que crêem e por isso não conseguem nemcompreendernemdefender a fé cristã – muitomenos vivenciá-la. Muito do que dizemos aos nãocrentesnão representa o verdadeirocristianismo. E a maioria deles tira as suasimpressõessobre a fé cristã dos estereótipos e caricaturas que a culturapopular produz”. [1].
Porcausa dessa constatação Colson teve o desejo de escreverumlivro que descrevesse a fé que “de uma vezpor todas foi entregue aos santos” (Jd. 3). Uma fé que olhaparatrásbaseada na Palavra de Deus e na história da Igreja. Para Colson estas são as bases que mantêm os servos do senhornostrilhos da ortodoxia e livres do erro e do engano. Pois o únicomeio de se saber a verdade é com o estabelecimento de doutrinas, definições, paradigmas.Disso advém a necessidade de se conhecerdoutrina, história e credos (1 Pe. 3.15).
Umbomexemplo disso está na Epístola de Judas. Este ao perceber que algunsindivíduos tentavam transformar a graça de Deusemlibertinagem (vs.4) negando Jesus CristocomoúnicoSoberano e Senhor, além de muitas outras heresias, eleapelapara que os santos do Senhor se lembrem do ensino dos apóstolos e não se deixem contaminar pelas heresias dos últimostempos (vs.17-18). Na verdade o que poderiadestruir as suasvidasera o abandono do ensino apostólico, o abandono da doutrina.
Assim ocorre nosdiasmodernos. Igrejas que são filhas da Reforma Protestante abandonaram os Símbolos de Fé das Igrejas Reformadas, isso trouxe muitosprejuízos a fé cristã. Os cristãoshoje estão raquíticos, sem substancia e levadosparatodoladoporventos de doutrina (Ef. 4.14) justamentepor que não conseguem definirbem o que crêem.
No passado todo aquele que desejava fazer profissão de fé tinha que estudar o Catecismo Maior e passar por uma série de perguntas referentes a doutrina. Graças a Deus em algumas igrejas ainda é assim. Infelizmente essa não é a realidade da grande maioria, muitos trabalham assuntos seculares nas Escolas Bíblicas Dominicais (isso quando há); falam de sexo, atualidades, política etc. tudo o que é estudado nas escolas e faculdades (não que eu seja contra isso, acredito que devem ser feitas palestras sobre o assunto), contudo, há uma inversão de valores, paramos de estudar a Palavra de Deus paraestudar o que é ensinado no mundosecular. Fica-se conjeturando sobretudo e tece-se todo o tipo de argumento, entretanto, pensoeu, isto é uma totalperda de tempo. O que se precisa é estudar os Credos, a Confissão de Fé e os Catecismos, poissão estas as bases da forma de pensar da Igreja, estessão os alicerces fiéis para a elaboração de argumentos que os crentes usarão contra a sabedoria do mundo (1 Cor. 1.19-21).
Enfim, a remoção dos Credos e Confissões da igreja, ou seja, das bases doutrinárias, sob o pretexto de tornar a igrejamais “livre”, mais “evangelizadora”, mais “acessível”, menos “ortodoxa” e fundamentalista, não a fez maisforte, pelocontrário, a igreja cristã está exposta a todos os tipos de infiltrações. Elaprecisa de “anticorpos” eficazes e estessão justamente os marcosantigos colocados pela Reforma Protestante, que de forma verdadeira, solidificou o ensino daqueles que seguem a Cristo Jesus. Esse foi o intuito de todos os credos e confissões que já existiram (ver post anterior), eles serviram como estudos relativos à fé cristã eao mesmotempo combatinham as ênfases ou ensinos errados que tentavam aflorar no seio da igreja [2].
Portanto reafirmo, porfavor, não removam os marcosantigos que puseram os nossospais, ensinem a BíbliaSagrada e os Símbolos de Fé, pois dessa forma seremos muitomaiseficazes na exposição da fé que nos foi dada por nossos pais.
Soli Deo Gloria.
[1] COLSON, Charles; FICKETT, Harold, A FéemTempos Pós-Modernos, Ed. Vida, São Paulo, 2009, p. 9.
Algumas pessoas têm me perguntado o porquê desta foto no meu blog, aqui respondo.
Mais do que o local do relógio Bigben, marcapostal de Londres, este é o Palácio de Westminster também conhecido como Casas do Parlamento, (em inglês Houses of Parliament) é o local onde estão instaladas as duas Câmaras do Parlamento do Reino Unido (a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns). O palácio fica situado na margem Norte do Rio Tamisa, no Borough da Cidade de Westminster próximo de outros edifícios governamentais ao longo da Whitehall. onde se encontra a Abadia de Westminster. Umlocal importantíssimo para a reforma protestante, principalmentepara os de confissão reformada calvinista. Pois foi neste local que reuniu-se a Assembléia de Westminster. Lá foram redigidos a ConfissãoFé de Westminster, assimcomo os documentosCatecismosMaior (1648), BreveCatecismo (1647) e o Diretório de Culto.
A Assembléia de Westminster foi organizada porteólogos e civis reunidos na Abadia de Westminster, Inglaterra, por convocação do ParlamentoBritânico. Esta assembléia reuniu-se de 1 de junho de 1643 a 22 de fevereiro de 1648[1]. A Assembléia foi aberta no sábado, 01/07/1643, quando pregou o Dr. William Twisse (1575-1646), que iria ser o moderador da Assembléiaaté a suamorteemjulho de 1646 quando foi substituído por Mr. Herle, ele baseou o seusermão no Texto de Jo 14.18, "Nãovos deixarei órfãos, voltarei paravós".
A Assembléia funcionou realizando 1163 sessõesregulares, semcontar as inúmeras reuniões de comissões e subcomissões[2].Trabalharam na elaboração da Confissão, 121 teólogos e trinta leigos nomeados peloParlamento, a saber: 20 da Casa dos Comuns e 10 da Casa dos Lordes feitaem 12/06/1643); e, também 8 representantes escoceses, quatropastores e quatropresbíteros – sendo que dois deles nunca tomaram assento[3] – que, mesmosemdireito a voto, exerceram grandeinfluência. (nomeação
Os principaisdebates desta Assembléianão foram de ordemteológica, já que praticamente todos eram Calvinistas, massim no que se refere ao governo da Igreja. Neste particular havia quatropartidosEpiscopais: James Ussher (1581-1656), Brownrigg, Westfield, Prideaux; Presbiterianos: T. Cartwright (1535-1603), Walter Travers representados; os (1548-1635), etc.; Independentes: (Congregacionais) T. Goodwin (1594-1665); P. Nye (1596-1672); J. Burroughs (1599-1646), W. Bridge (1600-1670), S. Sympson; Erastianos: Assim chamados por seguirem o pensamento do T. Erasto (1524-1583), que defendia a supremacia do Estadosobre a Igreja, J. Selden (1584-1654), Whitelocke, J. Lightfoot (1602-1675). Prevaleceu, no entanto, o sistemaPresbiteriano de Governo.
O BreveCatecismo foi elaborado parainstruir as crianças; O CatecismoMaior, especialmentepara a exposição no púlpito, ainda que nãoexclusivamente. Eles substituíram emgrandeparte os Catecismos e Confissõesmaisantigos adotados pelas igrejas Reformadas de fala inglesa. É importantelembrar que ambos os catecismossãoresumos da Confissão de Fé, elaborados parafinsdidáticos.
EstesCredos foram logoaprovadospelaAssembléiaGeral da Igreja da Escócia, a Confissãoem 27 de Agosto de 1647 e os CatecismosMaior e Breveem 28 de julho de 1648, sendo esteato homologado peloParlamento Escocês em 07 de fevereiro de 1749.Eles tiveram e têm uma grandeinfluência no mundo de fala inglesa, principalmenteentre os Presbiterianos, emboratambém tenham sido adotados por diversas igrejasbatistas e congregacionais[4].
Os documentos produzidos na assembléia foram de estremaimportânciapara a IgrejaProtestanteséculo XVI, pois o uso dos Catecismos e Confissões trouxe umparâmetrodoutrinalpara a fé e o culto das Igrejas Presbiterianas de derivação inglesa e escocesa emtodo o mundo. Reformada do estabelecido
É importantesalientartambém que já existiam confissõesanteriores a de Westminster, dentreelas[5]: Os Sessenta e SeteArtigos Zwinglianos (15 23), o CatecismoMaior de Lutero (1529), Confissão de Augsburg redigido por Felipe Melanchthon (1530), Confissão de Genebrafeitapor João Calvino e Farel (1536), Catecismo da Instrução na Fé (1537) catecismoescritopor Calvino poucodepois de se radicaremGenebra, A Confissão da Guanabara (1558) escritaporquatro huguenotes que faziam parte da França Antártica, A Confissão Galicana (1559) adotada pelaIgreja Reformada da França, A Fórmula de Concórdia (1577) elaborada por uma equipe de teólogosem 1577 como uma declaração aos Artigos da Confissão de Augsburgo, A Confissão Escocesa (1560) produzida a pedido do Parlamento Escocês comoparte da Reforma da Igreja e teve como participante da comissão o reformador John Knox, A Confissão Belga (1561) escritapor Guido de Brès que se tornou o documentooficial do Protestantismo Reformado Holandês, O Catecismo de Heidelberg (1563) principaldocumento da Igreja Reformada Alemã. Foi escritopor Zacarias Ursinus e Gaspar Olevianus a pedido do príncipe Frederico III, A SegundaConfissão de Fé Helvética (1564) escritapor Johann Heinrich Bullinger também a pedido de Frederico III, Os Cânones de Dort (1619) que foram redigidos peloSínodo de Dort que se reuniu em Dordrecht porautoridade dos EstadosGerais dos PaísesBaixos, Holanda, dentre outras. Contudo se estudarmos estas versões vemos que elas foram escritasemsuamaioriaporumúnicoautor, enquanto que a Confissão de Fé de Westminster foi feitapor 120 teólogos deferentes, de diversos paises, com o desejo de unificar a fé e culto Reformado.
A Confissão de Fé de Westminster compõe-se de 33 capítuloscujostemas podem serclassificados da seguinteforma: a EscrituraSagrada (Cap. 1), o Ser de Deus e suasobras (2-5), o pecado e a salvação (6-8), a Aplicação da obra da salvação (9-15), a Vida Cristã (16-21), o Cristão na Sociedade (22-24), a Igreja e os Sacramentos (25-29), a DisciplinaEclesiástica e os Concílios (30-31), e as Últimas Coisas (32-33).
Pronto! Matei a curiosidade.
Abraços.
[1] HODGE; Alexander, A Confissão de Fé Comentada, Ed. Os Puritanos,
São Paulo, 1999, p. 38.
[2] KERR, Guilherme; A Assembléia de Westminster, São Paulo, Ed. Fiel, 1984, p. 18.