terça-feira, 20 de abril de 2010

A FONTE DAS IMPUREZAS




Nadafora do homem que, entrando nele, o possa contaminar;

mas o que sai do homem é o que o contamina”.

Marcos 7.15

Nos dias atuais (e desde sempre na história do homem) há uma infinitude de coisas que as igrejas neo-pentecostais, similares e genéricas desenvolveram para engrupir e enredar os menos conhecedores da Palavra de Deus. Há sabonete que limpa pecados, melhora a relação do casal e de quebra abre o caminho; óleo ungido que pode ser utilizado para ungir os enfermos, ser colocado na bebida e na comida daqueles que precisam de libertação, ungir a casa contra os maus espíritos, melhorar os negócios, atrair o futuro conjugue etc., dentre muitas outras bizarrices. O interessante é que são todas formas externas para lidar com a impureza que há dentro do homem. Sendo que nada fora dele o pode contaminar.


Essa influência é tão forte que nesses dias uma irmã da igreja (doutrinada, porque ensinei este texto) perguntou se ela colocasse esse tal óleo ungido (sabe-se por quem...quem quiser que entenda) na bebida do marido ele realmente pararia de beber tanto. Não pude deixar de lembrá-la o ensino de Jesus quanto à fonte das impurezas.

A pergunta pululante que surge é: Será que o ato de lavar-se com sabonete (ainda que fosse de soda cáustica) ou mesmo beber azeite (ainda que fosse ácido sulfúrico) o que isso afetaria nos sentimentos, mente, moral e pecado do homem?


[Erram por não conhecer as Escrituras e o poder de Deus; Mt 22.29]


Combatendo este ensino Jesus adentra o âmago dos pensamentos e práticas dos homens revelando que todos os males procedem do interior deles mesmos contaminando-os (vs. 23). Assim Ele focaliza a fonte da impureza no coração dos homens, ao contrário das tradições humanas que afirmam que as influências externas são a causa da "impureza". (Entenda “influência externacomo família, doença, violência física, estupro e toda e qualquer coisa que proporcione um desenvolvemento de um distúrbio mental grave em uma pessoa; podendo apresentar comportamentos anti-sociais e amorais sem demonstração de arrependimento ou remorso, incapacidade para amar e se relacionar com outras pessoas com laços afetivos profundos, egocentrismo extremo e incapacidade de aprender com a experiência; em uma única palavra: psicopatia, o que para mim é sinônimo de Pecado).

Neste texto do Evangelho de Marcos, Jesus denomina algumas coisas que procedem do coração humano e que contaminam o indivíduo; ele menciona doze pecados. É interessante notar que os primeiros seis substantivos são plurais, referentes aos sucessivos atos pecaminosos, à medida que estes emergem da fonte interior da corrupção humana; as outras tendências mais sutis para o mal que se seguem estão no singular (v.22).


Devemos entender que Jesus não pretende fazer uma lista exaustiva de pecados, mas sim fazer com que os seus discípulos entendessem o seu ensino e pudessem identificar o que os seus interiores podem produzir, a saber: maus pensamentos (dialogismoi, "imaginações más", cf. Tg 1.14-15), nestes se enquadram diversas ações e vícios degradantes; Imoralidade sexual (porneiai, geralmente traduzida por "fornicação"); Adultério (moicheid) que é a infidelidade conjugal; roubo, aqui Jesus apresenta de duas formas, roubar propriedade alheia (klopai), e assassinato (phonoí) que é roubar a vida de alguém; Cobiça (pleonexiaï) que é o desejo ardente de possuir o que pertence a outros; Malícia (poneriaï) descreve a pessoa que persegue ativamente o mal com o desejo de prejudicar outras. Como Satanás (o "maligno", poneros).

Os seis substantivos seguintes referem-se a vícios em si mesmos, começando com o engano (dolos, "dolo"); lascívia (aselgia, "indecência, devassidão") significa ressentimento contra todas as restrições morais e sociais; Inveja (ophtalmos poneros) que significa, literalmente, "um olhar maldoso"; Difamação (blasphemia) que pode ser uma fala difamatória ou abusiva contra outra pessoa; Arrogância (hyperephania) que é o desprezo pelos outros, orgulho, e o ultimo pecado da lista, loucura (aphrosyne) não se referindo à debilidade mental, mas ao homem que não deseja saber nada sobre Deus.Observando esta lista podemos entender o motivo de tanta maldade praticada pelos homens que aparecem todos os dias nos tele-jornais.


De acordo com este ensino de Jesus estes sentimentos não podem ser corrigidos por meio de um ritual de limpeza ou por uma dieta de alimentos; não podem ser controlados pelas leis (civis ou religiosas; cf. Mc. 7.7-13) por que são parte da natureza decaída do homem. Eles vêm "de dentro do coração" (v. 20). Essa é a diferença fundamental entre o reino de Deus e o judaísmo farisaico, ou seja, o que é meramente externo não pode purificar (lavar as mãos Mc 7.2-4), assim como o que é meramente externo não torna impura a natureza espiritual do homem (comer Mc 7.18-19, ver também Mt. 15.1-20). Em outras palavras, a natureza moral humana é a fonte da impureza moral. Sendo o que contamina o homem não é o que entra nele (alimento), mas sim o que sai do íntimo dele (palavras, sentimentos, valores).


Retomando o que começamos, a crença popular diz que se deve tomar banhos para afastar mal olhado (inveja), colocar pedaços de alho espalhado pela casa, sal, e pimenta, lavar-se em rios, inclusive o Jordão em Israel, para se purificar, comer Nhoque com um dólar embaixo do prato trazer sorte e fazer mais um monte de outras coisas externas, contudo o ensino de Jesus é tão contrário a todos estes conceitos populares que nãocomo deixar-nos envolver por esse engodo. Quando caímos nesse falso ensino é porque esquecemos das palavras de Jesus; ou porque preferimos traçar o caminho mais fácil de limpar as mãos externamente do que o difícil caminho de limpar o coração abandonando o pecado.


Portanto o único remédio para livrar-se do pecado e purificar as nossas vidas é um novo coração, purificado pelo sangue de Jesus e habitado pelo Espírito Santo de Deus. Não há outra forma, as demais são invenções humanas que tentam invalidar a Palavra de Deus (Cf. Mc 7. 6-13). Não devemos esquecer também que tanto pensamentos como conduta são importantes para Deus e que nenhum dos rituais religiosos do mundo pode mudar o coração de uma pessoa. Mais uma vez a única forma é o evangelho de Jesus Cristo que trabalha o homem de dentro para fora, provendo a motivação interna necessária para adquirir caráter justo e para livrar-se "de toda impureza e acúmulo de maldade" (Tg 1.21). Aquele que experimenta o governo de Deus em sua vida é capaz de viver num plano diferente, pois "o homem bom tira boas coisas de seu bom tesouro" (Lc 6.45).


Que Deus nos abençoe.





Nota: Adaptado do texto de Dewey M. Mulholland, Introdução e Comentário de Marcos, Ed. Vida Nova, p. 119-122.



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