quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Importância do Exame das Escrituras


"E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. 11 Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim".

Atos 17.10-12



Salve amigos, o tempo para escrever está curto devido aos muitos afazeres, entretanto estive pensando, não sei se sou eu que tenho muitos afazeres ou se somos nós que vivemos em uma época que não se tem tempo para mais nada. Muito menos para examinar as Escrituras. Não há tempo pra isso!

Todavia, a falta de tempo não é o grande problema do evangelicalismo moderno, porque uma simples eleição de prioridades faria do estudo da Palavra uma necessidade para os evangélicos.

O problema do evangelicalismo moderno é a preguiça de pensar, queremos tudo mastigadinho. Esta é uma marca dos evangélicos hoje, ou seja, os crentes de hoje têm imitado o mundo no que diz respeito ao ensino e aprendizado (Educação). Por exemplo, nas Universidades, as pessoas que lá adentram, boa parte delas pelo menos, não têm como prioridade desenvolver conhecimento para crescimento intelectual e como decorrência crescer na vida profissional, essa não é a primeira resposta que estes dão ao serem argüidos, o objetivo maior é a obtenção do “canudo” para melhorar a vida financeira (mercado de trabalho), a conseqüência disso é que saem de suas formações sem saber nada porque o objetivo é “formar” não aprender. O objetivo que deveria ser o desenvolvimento de sua capacidade intelectual e domínio do conteúdo apresentado durante a formação passa a ser apenas a obtenção de notas que possibilitem passar nas matérias. Significa dizer que as matérias que receberam dos professores não foram analisadas, estudadas e compreendidas como deveriam, mas apenas decoradas. (quando são! ou passam na base da pesca ou do plágio). Há preguiça generalizada de pensar, de aprender, não há avidez pelo conhecimento e desenvolvimento intelectual.

As notas baixas no Provão do MEC, o péssimo nível das provas para da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), examinados que não conhecem as lei nem como interpretá-las, assim como médicos que não sabem como identificar doenças ou mesmo qual a procedimento correto para determinados procedimentos, a pouca quantidade de pesquisadores e cientistas, dentre outras coisas, têm demonstrado esta verdade.

Entre os crentes podemos perceber esse tipo de atitude na falta de conhecimento bíblico, doutrinário e histórico, além do não desenvolvemento de senso crítico. Simplesmente há preguiça de analisar o que recebem em suas igrejas, recebem todo o tipo de argumento que é dito nos púlpitos, rádios e emissoras de TV sem nenhum tipo de analise prévia (Mesmo porque, como reconhecer o erro se não conhece o que é correto?).


Graças a Deus e para nos alertar, os bereanos são um exemplo bíblico contra esse tipo de padrão. Os bereanos ao ouvirem a pregação do Apostolo Paulo receberam o seu ensino com avidez (vs.11), como quem deseja absorver todo o conhecimento que encontraram na exposição das Escrituras. Aparentemente havia um profundo desejo de se “apossar”, de se “apropriar”, de “dar ouvidos” ao que procedia daquele mestre. Essa era a diferença observada por Lucas quando comparou os bereanos com os tessalonicenses, ele referiu-se aos bereanos como aqueles que tinham “nobreza de mente” (do grego euvgene,steroi; esta palavra é melhor traduzida como “bem nascidos”[1], como sendo um nascimento “superior”, ou seja, nascidos do Espírito Santo), significando que os judeus de Beréia mostravam mais maturidade e maior espiritualidade do que os judeus de Tessalônica (At. 17.1 e 10;1 Cor. 2.13-14).

Essa observação de Lucas é alicerçada no fato dos bereanos receberem o ensino de Paulo com critério (análise); diz o texto que eles examinaram as Escrituras todos os dias para confirmar se o ensino de Paulo era realmente o ensino de Deus encontrado em sua Palavra (Vs. 11), e mais, ao analisarmos o verbo “examinando” em outros textos do próprio Lucas, ou seja, no Evangelho e em Livro de Atos dos Apóstolos[2], percebemos que ele usa a palavra grega avnakri,nw denotando um inquérito judicial[3], ou seja, um conjunto de atos e diligências que têm por objetivo apurar a verdade de fatos alegados[4]. Por exemplo, é a mesma palavra que está presente quando Herodes interrogou a Jesus (Lc 23.14-15) ou quando o Sinédrio interrogou a Pedro e a João (4.9), assim como, quando Herodes interroga os sentinelas a respeito do sumiço de Pedro da prisão (12.19) e quando Félix interrogou a Paulo pela acusação de Tértulo (24.8), provando que os irmãos de Beréia buscavam de fato conhecer a verdade. No entanto é importante ressaltar, diz o comentarista John Stott, que este verbo grego implica em integridade e ausência de preconceito[5], ou seja, ausência de qualquer opinião ou sentimento quer favorável quer desfavorável, o desejo real é apenas obter a pura verdade.

Portanto, significa dizer que os bereanos
só firmariam alguma idéia ou conceito depois de minucioso exame das Escrituras para então posteriormente confirmar
(“se as coisas eram, de fato, assim”) se era verdadeiro ou não o ensino de Paulo.

O texto ainda diz que eles faziam isto “todos os dias” (vs. 11) que Paulo falava, mostrando constância, não no sábado na Sinagoga, mas todos os dias. Este ato os fazia crescer em conhecimento e experiência.

Os teólogos de Westminster compreendendo esta verdade escreveram no Catecismo Maior:

Pergunta 160: O que é exigido dos que ouvem a Palavra pregada?

R. Exige-se dos que ouvem a Palavra Pregada que atendam a ela com diligência, preparação e oração; que comparem com as Escrituras aquilo que ouvem; que recebam a verdade com ; amor, mansidão e prontidão de espírito, como Palavra de Deus; que meditem nela e conversem a seu respeito uns com os outros; que a escondam no coração e produzam frutos devidos no seu procedimento[6].


Portanto, ao analisamos este texto percebemos que nem o orador nem os ouvintes usam as Escrituras de forma superficial, pouco inteligente ou mesmo como um simples texto-prova, pelo contrário, Paulo expôs as Escrituras e os judeus de Beréia as examinaram para ver se os argumentos eram convincentes.

Diante disso, não devemos receber os estudos que são pregados todos os dias sejam pelas emissoras de Tv ou rádio ou mesmo nos púlpitos e nas Escolas Bíblicas das nossas igrejas sem consultar a Escritura para ver se as coisas são, de fato, assim. Diferentemente de muitos crentes que hoje dão mais ênfase nas “revelações especiais” dos homens do que na Escritura Sagrada e não se dão nem o trabalho de provar os espíritos (1 Jo 4.1) quanto mais analisar o que estes homens dizem à luz do Evangelho.

Amigos, a história tem mostrado que essa é a postura correta dos servos de Deus. O exemplo que podemos seguir é o do reformador Martinho Lutero, que ao analisar os ensinos romanistas observou que muitas coisas que eles pregavam não eram condizentes com o ensino bíblico. Houve então, por parte do reformador, um desejo de lutar pela verdade e de fazer jus a palavra de Deus. Ele escreveu textos que mostravam a verdadeira interpretação e doutrina bíblica, ele agiu como os irmãos de Beréia, mas infelizmente o ensino da igreja romana não passou no crivo da Palavra de Deus.

No entanto, devemos lembrar que a Reforma trouxe o “livre exame” e não a “livre interpretação”, como tem ocorrido nos nossos dias, pois podemos ver as pessoas interpretando a Santa Escritura do jeito que querem. Devemos aprender com os irmãos bereanos e compreender que a interpretação deve ser cativa do Espírito Santo e somente através da Palavra que Ele mesmo inspirou. Isto era justamente o que distinguia os de crentes de Beréia. A cerca destes irmãos disse o comentarista bíblico Simon Kistemaker:

“Os bereanos estão presentes todas as vezes que os cristãos se recusam a aceitar sem questionar a explicação de uma passagem da Escritura, porém, examinam a explanação para conferir se ela se alinha à verdade do texto bíblico. Para eles, a Escritura é básica, relevante e preciosa[7].


Em outras palavras, os Bereanos queriam aprender o que Deus tem a dizer em sua Escritura e para eles a Escritura era muito mais que um pergaminho ou um livro que transmite uma mensagem divina, para eles o Antigo Testamento era uma pedra angular da verdade que ao compararem com a pregação de Paulo puderam conferir e aferir a procedência da pregação.

Que Deus nos ajude a abandonar a preguiça de pensar.



[1] KISTEMAKER; Simon, Comentário do Novo Testamento: Atos, Vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, 2006, p. 174.

[2] Lucas 23.14; Atos 4.9; 12.19; 24.8; 28.18.

[3] WILLIAMS; David J.; Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Atos, Ed. Vida, São Paulo, 1996. p. 328.

[4] Dicionário Eletrônico Houaiss.

[5] STOTT, John; A Mensagem de Atos, Ed. ABU, São Paulo, 1994, p. 308.

[6] Catecismo Maior de Westminster, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, 2005. p. 228.

[7] KISTEMAKER; Simon, Comentário do Novo Testamento: Atos, Vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, 2006, p. 169.



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